25/04/2015

Para Florbela, por Sebastião da Gama


a Eduardo Luís Godinho, que publicou este soneto no Facebook. A 5.03.2015



À Florbela

(em sua memória)

Sou eu, Florbela! Aquele que buscaste.
Falam de mim Teus versos de Menina.
Tua boca p’ra mim se abriu, divina,
mas foi só o Luar que Tu beijaste.

Hás de voltar, Florbela!… Em débil haste,
por entre os trigos cresce, purpurina,
a mais fresca papoila da campina
que, só por me veres, não cortaste.

Eu tenho três mil anos: sou Poeta.
Surgi dos lábios secos dum asceta,
de uma oração que Deus deixou de parte.

Redimi tantos corpos, tantas vidas
neles vivi, que sinto já nascidas
asas com que subir para alcançar-Te


Arrábida, 6.11.1943


Sebastião da Gama (1924-1952)