16/01/2014

«PRINCE CHARMANT», soneto de Florbela Espanca

Ilustr. de Infante do Carmo para um conto d'O livro das mil e uma noites
6 vols., Lisboa: Estúdios Cor, 1958-1962.



A Raul Proença

No lânguido esmaecer das amorosas
Tardes que morrem voluptuosamente
Procurei-O no meio de toda a gente.
Procurei-O em horas silenciosas!

Ó noites da minh'alma tenebrosas!
Bocas sangrando beijos, flor que sente...
Olhos postos num sonho, humildemente...
Mãos cheias de violetas e de rosas...

E nunca O encontrei!... Prince Charmant
Como audaz cavaleiro em velhas lendas
Virá, talvez, nas névoas da manhã!

Em toda a nossa vida anda a quimera
Tecendo em frágeis dedos frágeis rendas...
— Nunca se encontra Aquele que se espera!...

Florbela Espanca



Referêencia:
Título original, nos manuscritos: «Nunca», escrito em Vila Viçosa, e integrado no volume Livro de Soror Saudade (1923).


In: ESPANC, Florbela - Obra Poética, volume I, de "Obras de Florbela Espanca" - org. e notas de José Carlos Seabra Pereira. Lisboa: Editorial Presença, 2009, p. 111.