21/01/2014

Luisa Notarangelo celebra Florbela Espanca em “Terra de Portugal”

Luisa Notarangelo
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Luisa Notarangelo, a residir em Itália, é vocalista de LUSITANA SAUDADE ENSEMBLE e canta um reportório musical de “world music” que inclui letras com textos de poetas portugueses, desde os mais consagrados e amados – como Fernando Pessoa e Florbela Espanca, até a populares (de tom alentejano) e de intervenção (Zeca Afonso).






          No CD agora lançado TERRA DE PORTUGAL [2014] – ideia, voz e produção executiva de Luisa Notarangelo – Florbela Espanca é verdadeiramente homenageada: são três as letras adaptadas de poemas da autora de Charneca em flor [1931]:
          «Fado Menor» [«Poetas»];
          «Fado Florbela» [soneto «Anoitecer»] e
           «Fado para Amália» [«Meu fado, meu doce amigo»].
Transcrevemos, à frente, os textos florbelianos. Um desses poemas interpretados por Luisa Notarangelo está disponível no Youtbe – Oiça este fado, e aproveite para expressar um "gosto" [like]:



FADO FLORBELA [clique aqui]
Letra: Florbela Espanca/Luisa Notarangelo
Música e arranjos: José Barros e José Elmiro Nunes
Vídeo no Youtube – fotografia de Patrizia Secundo.



ANOITECER*

A luz desmaia num fulgor d'aurora,
Diz-nos adeus religiosamente...
E eu que não creio em nada, sou mais crente
Do que em menina, um dia, o fui... outrora...

Não sei o que em mim ri, o que em mim chora,
Tenho bênçãos d'amor p’ra toda a gente!
E a minha alma sombria e penitente
Soluça no infinito desta hora…

Horas tristes que são o meu rosário...
Ó minha cruz de tão pesado lenho!
Meu áspero e intérmino Calvário!

E a esta hora tudo em mim revive;
Saudades de saudades que não tenho... 

Sonhos que são os sonhos dos que eu tive...
Florbela



* Soneto integrado no volume Livro de Soror Saudade [1923). -in: ESPANC, Florbela - Obra Poética, volume I, de "Obras de Florbela Espanca" - org. e notas de José Carlos Seabra Pereira. Lisboa: Editorial Presença, 2009, p. 112.



«Fado Menor» de Luisa Notarangelo


POETAS*

Ai as almas dos poetas

Não as entende ninguém;
São almas de violetas
Que são poetas também.

Andam perdidas na vida,

Como as estrelas no ar;
Sentem o vento gemer
Ouvem as rosas chorar!

Só quem embala no peito

Dores amargas e secretas
É que em noites de luar
Pode entender os poetas
E eu que arrasto amarguras

Que nunca arrastou ninguém
Tenho alma para sentir
A dos poetas também!
                                  Florbela

* Poema publicado no Notícias de Évora, 23.07.1916. - in: ESPANCA, Florbela – Obra Poética, volume I, de "Obras de Florbela Espanca" - org. e notas de José Carlos Seabra Pereira. Lisboa: Editorial Presença, 2009, 27.

«Fado para Amália» de Luisa Notarangelo


MEU FADO, MEU DOCE AMIGO

Meu fado, meu doce amigo
Meu grande consolador
Eu quero ouvir-te rezar,
Orações à minha dor!

Só no silêncio da noite
Vibrando perturbador,
Quantas almas não consolas
Nessa toada d'amor!

Cantando p'r uma voz pura
Eu quero ouvir-te também
P'r uma voz que me recorde
A doce voz do meu bem!

Pela calada da noite,
Quando o luar é dolente,
Eu quero ouvir essa voz
Docemente... docemente...

                                   Florbela



* In: ESPANCA, Florbela – Obra Poética, volume I, de "Obras de Florbela Espanca" - org. e notas de José Carlos Seabra Pereira. Lisboa: Editorial Presença, 2009, p. 58.



Para saber mais: