14/12/2013

«Riso amargo» - soneto inédito revelado a 06.12.2013

RISO AMARGO [1]


O sorriso de Florbela
Lisboa, Campo Grande, 17.03.1918


Num desafio temerário e forte,
Eu quero rir da vida, altivamente,
Da vida que é combate, luta ingente,
Nesta comédia dum viver sem norte.

Quero rir da desgraça e da má-sorte
Que nos fere e persegue tenazmente.
Rir do que é baixo e vil, amargamente,
Do que é soluço e dor… E até da morte!

De tudo rir! Que mais posso fazer?...
Se a podridão de charco jamais volta
À limpidez das fontes a correr…

Quero rir!... E o meu riso é um esgar,
Um grito de impotência e de revolta!
Rir! Quero rir!!
                    … E apenas sei chorar!

Florbela Espanca








[1] Um de seis sonetos inéditos – e até hoje desconhecidos – de Florbela, divulgado na conferência-recital “Os Poemas Inéditos de Florbela Espanca”, org. Associação Nova Acrópole, Lisboa, 06.12.2013. – conferência proferida por José Carlos Fernández; poemas declamados pelo Grupo de Poesia Florbela Espanca da Nova Acrópole.

Reprod. in GONÇALVES, Severina (2013), Poemas Inéditos de Florbela Espanca, Lisboa: Edições Nova Acrópole. [ainda não vi édito este livro]